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Para frente ou para trás

Leia abaixo artigo do professor Theotonio dos Santos, presidente do CEPPES e da REGGEN sobre o que está em jogo nestas eleições. Quais são as duas correntes mundiais que se enfrentam nesta campanha?

Theotonio Dos Santos*

Daqui do México, tenho a impressão de que o mundo está muito preocupado com o que passa no Brasil. Em contato com muitos amigos de vários países em um Congresso Internacional em que participo e no hotel que comparto com os membros de uma reunião da OEA tenho a oportunidade de sentir a preocupação generalizada com o processo eleitoral brasileiro. A política internacional brasileira dos últimos 12 anos trouxe uma esperança impressionante para os povos que buscam sair da condição de subordinação e dependência, particularmente os latino-americanos. Para eles, o Brasil parece ter-se alinhado entre os protagonistas da política internacional representando os interesses da região.  Contudo, está muito claro que os setores mais poderosos que controlam a imprensa e os meios de comunicação não veem com bons olhos este novo quadro internacional. Eles não querem mais poderes autônomos no mundo que ate agora controlavam.  Por isto se pode observar um súbito alento para estes senhores com a perspectiva de volta ao governo do PSDB no Brasil. Podemos contar com todo tipo de ações para garantir esta alternativa.


México é um lugar privilegiado para observar este fenômeno. Neste momento, as forcas hegemônicas do sistema mundial veem no México uma alternativa para disputar – pelo menos na America Latina - este protagonismo do Brasil. É impressionante constatar a diferença de tratamento para com o governo mexicano enquanto movem uma guerra psicológica no Brasil há mais de um ano na busca da derrota do PT. Vejam os leitores algumas pérolas deste tratamento:


México mantem uma das mais baixas taxas de crescimento nos últimos 12 anos (1,5%), mas melhorou para 2,4% em 2014, segundo previsões que se entusiasmam com a possibilidade de um 3,5% em 2015.  Todos conhecemos o fracasso das previsões do FMI, mas no Brasil se fala de um “fracasso” do governo do PT com taxas de crescimento muito superiores durante o mesmo período. Quanto às previsões, não são muito diferentes para os próximos anos. Mas, segundo o FMI, o México tem a vantagem de estar em “livre” associação com os Estados Unidos que estaria se recuperando da brutal crise que jogou para baixo a economia mexicana de 2008 até o ano passado pelo menos.  Querem que o México assuma a liderança de uma  tal de Aliança  do Pacífico e aprofunde  a subordinação que vem tendo com os Estados Unidos (com baixo crescimento, moeda em desvalorização,  endividamento igual ao seu PIB, déficit fiscal e comercial permanente sem saída estrutural à vista).    


México tem déficit fiscal há muito tempo, enquanto o Brasil tem superávit fiscal por pressão destas mesmas forcas políticas.  Incrível, os reis dos “superávits” fiscais, que nos impedem de investir e atender as necessidades de nossos povos, revelam uma disposição impressionantemente positiva com o novo governo do México. O departamento fiscal do FMI nos surpreende com as seguintes ponderações: “É legítimo que México utilize o déficit fiscal quando se tem momentos de baixo crescimento e, sobretudo, quando se usa para facilitar a acomodação orçamentária de reformas estruturais como as que foram realizadas.”
Em palavras mais simples para o leitor entender de que se trata com estas afirmações que aparentemente se colocam contra toda a teoria que manejam estes órgãos neoliberais: o México acaba de PRIVATIZAR O PETRÓLEO, havendo sido o primeiro pais da região a criar o monopólio estatal do petróleo no início da década de 1940, logo, tem direito a tudo.   Para os amigos dos decadentes donos privados do petróleo mundial tudo vale. O FMI está pronto para voltar a meter-se no Brasil e ajudar a completar a obra privatizadora dos dois governos do PSDB.  No fundo, este duplo tratamento que notamos aqui são partes da mesma política.


Querido leitor, seja qual seja sua origem social, étnica e de gênero: No Brasil estão jogando suas cartas duas correntes mundiais:


Uma que se coloca do lado de uma tentativa de “ELIMINAÇÃO” da pobreza, de uma democracia participativa, apoiada na sociedade civil organizada, da soberania de todos os povos para defender suas riquezas naturais e só explorá-las de acordo com as melhores condições de vida dos povos afetados pela sua exploração, do planejamento do desenvolvimento humano e sustentado de todos os povos, da verdadeira liberdade de opinião e de informação, da associação cooperativa de todos os setores sociais e de todos os povos, sobretudo dos povos latino-americanos e caribenhos organizados na CELAC, na UNASUL, na ALBA, na Comunidade Andina e particularmente no MERCOSUL que transformou profundamente o comércio brasileiro e a dinâmica da relação brasileira com o mundo americano. Este enfoque se entronca com a crescente unidade dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) que abre caminho para uma nova economia mundial. Este é o novo BRASIL que a aliança de forcas comandadas pelo Partido dos Trabalhadores está tentando avançar no nosso país com um forte apoio de forcas sociais mundiais que estão em plena ofensiva no mundo.


Do outro lado, estão as forcas que respondem aos interesses do grande capital internacional e dos Estados Nacionais, partidos e grupos sociais que os apoiam e seguem. Eles são terrivelmente poderosos, mas como seus interesses entram em contradição com a grande maioria da humanidade não podem exercer este poder impunemente. Claro que lhes interessa, sobretudo, controlar a opinião pública mundial com o domínio monopólico dos meios de comunicação para impor a versão adoçada das vantagens do seu mundo. Eles utilizam como instrumento privilegiado desse controle as “guerras psicológicas” que visam criar o ódio contra as forcas do avanço da humanidade e o progresso. Eles comandam a maioria dos órgãos de poder mundial para sustentar a economia mundial desigual e combinada que impõem sobre o conjunto do mundo. Mesmo assim não podem impor totalmente suas ideias e seus interesses. Exemplo disto é a decadência do Grupo dos 7 que pretendeu comandar a economia mundial a serviço  da Trilateral, organização criada pelos grandes grupos econômicos internacionais dos Estados Unidos, Europa e Japão.  Atualmente eles estão em plena decadência enquanto os povos que eles pretenderam deter estão em ascenso. Estados Unidos assiste sem entender a China passar o seu Produto Interno Bruto em 2014. Alemanha e Japão - que disputavam o segundo lugar entre os maiores PIBs do Mundo - lutam para não cair mais diante do avanço do PIB da Índia.  França, Itália e Inglaterra lutam para manter os próximos lugares diante do crescimento do Brasil, da Turquia, da Rússia e outras potências emergentes. Eles estão em plena decadência e querem levar consigo os povos sobre os quais exercem uma influência decisiva baseado nos seus colaboradores e agentes no interior de quase todos os países do mundo. Mas não se enganem. Eles não têm quase nada a oferecer aos povos, principalmente aos mais pobres. O grupo que quer voltar ao poder são os mesmos que privatizaram a preço de banana as principais empresas estatais do país para consumir entre eles mesmos as sobras desta operação de corrupção generalizada.  


Agora querem fingir que estão do lado da Petrobrás que não puderam privatizar totalmente, mas não se iludam: estão lutando violentamente para controlar o petróleo do Brasil que surpreendeu o mundo com o PRESAL, resultado do esforço tecnológico da universidade brasileira. Eles necessitam de um governo que os ajude a dominar toda esta riqueza. O PSDB já mostrou de que lado está. Você vai permitir isto?   
        

*PREMIO MUNDIAL DE ECONOMISTA MARXIANO (2013) DA WORLD ASSOCIATION FOR POLITICAL ECONOMY(WAPE).