Edição julho de 2015 - n. 3 - v. 2
Editorial
Com a publicação do nº 4 da edição digital e o nº 12 da edição impressa completam-se dez anos de atividade de nosso periódico científico. Como principal lição que tiramos da experiência até o momento temos a confirmação de nossa missão o definida quando do primeiro número: o primado da construção teórica sobre a prática e a necessária fusão dessa com a primeira expressa na categoria práxis, como atividade humana criativa.
Recursos naturais, pensamento estratégico e soberania na América Latina
O estudo da professora Monica Bruckmann mostra a complexidade da estratégia das forças sociais que sofrem diretamente as consequências de uma política de desapropriação de recursos naturais e de territórios, de devastação do meio ambiente, da contaminação das fontes de água doce e bacias hidrográficas e da expulsão de seus próprios territórios. Este processo converteu-se em uma das principais fontes de conflito em um contexto de crescente militarização da região com forte participação do efetivo militar estadunidense.
A participação social mediada pelas tecnologias de informação e comunicação – TIC
O artigo de Daniel Roedel aborda o uso das tecnologias de informação e comunicação pelos movimentos sociais, destacando seu potencial de mobilização, bem como restrições. Alerta que as TIC não são neutras, pois reproduzem os conflitos do ambiente concreto e cumprem papel político no atual contexto. Apresenta o Marco Civil da Internet, em implementação no Brasil, como importante instrumento de apoio à participação social, enfatizando, porém, que a disputa pelo uso democrático da rede está aberta e dependerá da correlação de forças na sociedade civil.
Leviatã de Thomas Hobbes: Direito à Resistência e Estado de Transição
O presente artigo de Aluisio Pampolha Bevilaqua tem por objetivo oferecer um novo olhar sobre a obra clássica Leviatã ou Matéria, Forma e Poder de Um Estado Eclesiástico e Civil, de Thomas Hobbes. Sustenta a hipótese de que as noções de soberania e liberdade transcendem a ideia de uma forma autoritária de governo feudal ou capitalista. Com base na dialética marxista, sugere que a concepção metafísica hobbesiana de Jus Naturale e Lex Naturalis sobrepõe o direito a vida à soberania do Estado, assentada em leis positivas e, do silogismo intrínseco a mesma, o direito à resistência dos súditos, a soberania limitada do Estado, as características universais de Estado de transição e tendência histórica dos períodos de crises revolucionárias e mudanças no modo de produção e formas de sociedade humana.
A categoria mediação em Hegel, Marx e Gramsci: para suprimir ruídos conceituais
O ensaio de Zacarias Gama tem como alvo a categoria mediação definida por Hegel e aqui tomada como objeto com a intenção de apreender o seu significado filosófico. O que justifica tal esforço é a tentativa de superar uma concepção que se tem dela na atualidade, regra geral como sinônimo de simples intermediação entre duas coisas.
Acerca das posições de Portugal na Europa e no Mundo Crónicas independentes de Lisboa
O ensaio de Pedro Germano aborda a degradação exponencial das relações entre Estados, Federações, Uniões e simples Associações, todos esses conjuntos muito ocupados em dar seguimento ao diktat das potências dominantes. Aponta como perspectiva um desafio que só o futuro poderá melhor esclarecer, mas Portugal não poderá se escudar nas boas medidas e intenções da diplomacia europeia que tal como nas questões sociais e econômicas está apta sim, mas para a aplicação e defesa dos seus próprios princípios diretores.
Sobre a orientação econômica do partido da Frente Nacional (Front National)
Fabien Tarrit demonstra que na tradição fascista, no coração da qual foi fundada, a Frente Nacional é um partido burguês que defende de forma inequívoca o capitalismo, particularmente o capital industrial nacional enfraquecida pelo aumento do capital financeiro. Para defender o seu eleitorado tradicional, a pequena burguesia (artesãos e comerciantes) enfraquecidos pela competição, ele defende o Estado forte limitado às suas funções repressivas. Ele tenta expandir seu eleitorado, dirigindo-se aos trabalhadores, enquanto procura enganar os sindicatos enfraquecendo e dividindo os trabalhadores franceses e trabalhadores estrangeiros. É principalmente um inimigo para os trabalhadores e, por vezes, desempenha o papel de estímulo para partidos burgueses tradicionais.
A Educação das relações étnico- raciais e a Sociologia da Infância: contribuições da arte africana para iniciar as rodas de conversa
Este trabalho de Edmilson dos Santos Ferreira, Deise Marins Alcântara e Danielle Minioli Ferreira tem por objetivo identificar as estratégias adotadas na prática docente em Educação Infantil acerca da Educação das Relações Étnico-raciais na escola na perspectiva de Lei 10.639/2003. Apresentamos algumas ações e propostas vivenciadas na Escola de Educação Infantil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EEI-UFRJ). A pesquisa aponta para uma demanda por um processo de formação continuada que privilegie a articulação entre teoria e prática.
Vila Real ou a micronação performática
Este artigo de Antonia Cristina de Alencar Pires é uma leitura do romance Vila Real, de João Ubaldo Ribeiro analisando-o como uma narrativa “performática” (conceito criado pelo teórico Homi K. Bhabha). A partir de tal perspectiva, são observadas questões relacionadas à identidade cultural e ao sistema de identificação coletiva de um grupo de camponeses expropriados que busca estabelecer-se em algum lugar e que, desse modo configura-se como uma micronação.
Cinema e Acontecimento Comunicacional: a experiência cinematográfica pode ser transcendente?
Wilson Roberto Vieira Ferreira em seu artigo afirma que desde as suas origens o cinema traria ainda dentro de si a potencialidade em transcender a si mesmo e mudar vidas de espectadores ao transformar a experiência estética em um acontecimento. O cinema é um sintoma da sociedade mas, por outro lado, é um elemento operacional do contínuo midiático. Porém, em certos momentos e em dados contextos podem ocorrer experiências de quebras e brechas no princípio de realidade. A partir dos conceitos de Acontecimento e Comunicação seria possível capturar e refletir esses momentos efêmeros de ruptura.
Entrevista com Frei Alamiro
José Alamiro Andrade Silva (27/05/1940) nasceu em Três Pontas e em sua caminhada passou por momentos fortes da vida do povo pobre de nosso país. Esteve na luta em defesa dos direitos humanos e da luta pela anistia, ao lado do prêmio Nobel da Paz Adolfo Pérez Esquivel. Solidário como os mais fracos, nos dramáticos enfrentamentos com a repressão ao movimento dos trabalhadores em São Bernardo, continua um militante da “firmeza permanente”, como ele prefere chamar esse modo de construir um mundo novo, sem injustiças e exploração.
Resenha: Sombras autoritárias e totalitárias no Brasil: integralismo, fascismo e repressão política.
Vinicius Ramos resenha o livro Sombras autoritárias e totalitárias no Brasil: integralismo, fascismo e repressão política. João Fábio BERTONHA (Org.), Maringá: Eduem, 2013.