Quarta Frota Avança sobre a América Latina
Josiel Francisco Santos de Morais
Historiador e diretor do CEPPES
O artigo apresenta um estudo sobre a dependência dos norte-americanos em relação às matérias primas de países emergentes e o seu comprometimento político e econômico com as grandes industriais bélicas, através das invasões compartilham dos lucros e do domínio político e econômico dos países subjugados.
A crise do capitalismo tem tirado a tranqüilidade dos países imperialistas, pois a grande fonte de energia hidrocarboneto que move a economia mundial vem sinalizando que o mineral está se tornando escasso e que só tem sido encontrado em águas profundas. Isso tem gerado uma corrida frenética em busca de manter suas fontes de energia, pois essa matéria-prima que impulsiona as indústrias automobilísticas e outros quadros dos comércios de bens primários e o comércio de bens secundários gera riqueza para os países industrializados e não industrializados. A escassez desta fonte de energia e o alto custo de sua extração têm reduzido os lucros, tornando-se assim, um produto caro para os países que dependem desse mineral bruto.
A proposta dos norte-americanos de retornar com a força beligerante nomeada pela Marinha de seu país de Quarta Frota servirá de ameaça aos países da América Latina, tais como Brasil, Venezuela, Colômbia, Bolívia, Peru e outros que possuem em seus subsolos uma grande reserva de petróleo. Além disso, a escassez de matéria-prima em outros países imperialistas fará com que se unam em uma operação para saquear a América Latina e todos os países que tenham em seus solos matérias-primas como, madeira, água potável, gás natural, ouro, diamantes e outras fontes que mantenham a sua economia.
A Quarta Frota foi criada durante a II Guerra Mundial, em 1943, e desmobilizada em 1950. Naquele período tinha a justificativa da presença dos nazistas na América latina, porém com a vitória dos aliados essa força beligerante foi desarticulada, já que os lideres políticos de direita estavam aliados aos ianques.
Hoje, em 2008, o retorno da Quarta Frota mostra que os EUA vêm perdendo aliados políticos que acatavam suas exigências. Cresce em toda América uma luta contra a dominação imperialista que tem levado o seu povo a um pleno estado de miséria. Essa força contrária cresce na Bolívia, com Evo Morales, na Venezuela, com Hugo Chavez, no Equador, com Rafael Corrêa, na Nicarágua, Daniel Ortega, no Paraguai, Fernando Lugo.
A Quarta Frota pode ser comparada a embarcações de Francisco Pizarro e a de Pedro Álvares Cabral que adentraram o continente, massacraram as populações indígenas e, em seguida, apropriaram-se dos metais encontrados no solo e os que sobreviveram foram escravizados. A proposta dessa força beligerante é de recolonizar a América Latina, submetendo o povo que habita hoje esse continente a um novo tipo de política conhecida como neoliberalismo.
A Marinha estadunidense faz um discurso que será apenas para lutar contra os narcotraficantes. Isso não é verdade, pois a quantidade de armas e homens disponíveis supera os traficantes, não passa de apenas um pretexto para colocar sua frota em deslocamento para a América Latina, e ameaçar o povo com seus mísseis apontados para as refinarias e poços de petróleos descobertos em alto mar, forçando os governos a ceder às suas exigências.
A intenção é desestabilizar a economia e a política antiamericanas que crescem em todo continente. Isso fará com que as forças beligerantes americanas utilizem as bases dos países aliados para penetrar e assumir as posições estratégicas, apoderando-se assim das reservas petrolíferas e da biodiversidade da América Latina.
A redução do valor do dólar no mercado internacional criou instabilidade econômica no mundo, e uma crise interna na economia americana. A grande recessão assusta principalmente os empresários do setor industrial que segue com um alto índice de falência, isso mostra a necessidade que os estadunidenses têm de garantir o seu mercado de consumo e de extração de matéria prima, além de manter o seu imperialismo na América Latina. Mantendo a influência política nesse continente, eliminam assim, a perda do controle sobre os países que tentam livrar-se da submissão, dessa forma só resta impor a força para continuar no poder.
Para tentar salvar sua posição unilateral no mundo e impor a política neoliberal, os nortes-americanos têm usado sua força beligerante nos países que tentam se livrar das rédeas americanas. Conforme o artigo publicado pelo jornal INVERTA:
“O segundo traço que caracteriza o momento é o crescimento dos conflitos bélicos em resistência à recolonização neoliberal e à presença militar dos EUA mundialmente, acompanhando os mesmos. Os dados sobre os conflitos fornecidos pela ONU mostram que: de 1980 a 1990, 3 guerras; de 1990 a 2000; 5 guerras; de 2000 a 2008, já ocorreram 4 guerras. Dos 28 conflitos contemporâneos ( últimas 3 décadas), 11 deles se iniciaram nos anos 90 e 5 a partir de 2000, sendo que 7 continuam se desenvolvendo. Em todos estes conflitos se pode comprovar a presença direta ou indireta dos Estados Unidos.”1
Sendo assim, podemos analisar através dos estudos e de pesquisas que a venda de armas cresceu depois da 2ª Guerra Mundial, pois dados do Pentágono dizem que depois da segunda metade da década de 1950 até 2007, os EUA aumentaram a sua tropa e poder militar em todo planeta. Desenvolvendo, assim, a economia através dos conflitos entre os países que lutavam contra o império que crescia diante do mundo.
Conclui-se então que a economia americana sempre cresceu diante da barbárie e dos saques, aproveitando-se da destruição causada pela guerra nas forças produtivas dos países invadidos, lançavam suas propostas de recuperação ao governo que o apoiavam, criando assim, uma entrada de novo capital, forçando o país a se endividar, e em seguida, lançavam suas fábricas e as tecnologias nos territórios invadidos, como afirma Bevilaqua:
Desde 11 de setembro, os EUA aumentaram em mais de 20% sua presença militar no mundo – hoje mantêm cerca de 300 mil soldados em mais de 140 países. Seu orçamento militar entre 2001 e 2007 aumentou 59%, representando 45% de todos os gastos militares mundiais.”2
A justificativa da invasão americana ao Afeganistão foi o combate ao terrorismo, ao Iraque, derrubar a ditadura de Saddam Hussein. Hoje, ele lança sobre a América Latina uma nova justificativa, a guerra contra os narcotraficantes.
Portanto, vem posicionando sua frota de navios de guerra para iniciar mais conflito, mostrando ser inimigos dos traficantes, mas essa estratégia mostra a sua verdadeira intenção, destruir as forças produtivas da América Latina e introduzir uma recolonização nas Américas, escravizando e subjugando o povo latino americano a novas imposições do capitalismo.
A história é cíclica, em parte, pois às vezes apresenta-se de forma passiva e outras com rupturas revolucionárias, e com ela podemos analisar como os países imperialistas usavam suas táticas e estratégia de guerra. Na primeira metade do século XIX, os ingleses buscaram apoio ao governo indiano para invadir os países vizinhos, prometendo a aristocracia indiana parte do lucro obtido com as guerras, porém manteria a população subjugada e entregue às mazelas da política de exploração que implantava.
Utilizando-se de uma moderna tecnologia bélica, e muito superior a dos persas, o exército irregular resistiu o quanto pôde, havia sentimentos humanitários e determinação de defender seus territórios das mãos dos invasores, mas faltou à tropa regular arma moderna, conhecimento técnico de combate e estratégia militar. O exército regular não conseguiu manter uma união com o exército irregular, facilitando assim, a invasão dos ingleses sob território persa.
Os indianos com uma artilharia treinada e bem equipada pelos oficiais ingleses conseguiram eliminar do campo de batalha todo o exército persa, com apenas uma carga de um único regimento. O isolamento entre as duas forças foi decisivo para o exército anglo-indiano.
As forças imperialistas da Ásia formadas por ingleses e indianos aumentaram seu poder bélico e intensificaram os treinamentos militares, os oficiais ingleses instruíam o exército indiano com várias técnicas de combates e estratégia militar, fortalecendo, assim, os laços de comunicação e de barbárie que empregariam sob os povos invasores.
O exército anglo-indiano invadiu o território chinês e lá encontrou um povo organizado e determinado a não se submeter à humilhação dos invasores.
Ao contrário dos persas, os chineses não copiaram as normas ocidentais da guerra, mas desenvolveram sua própria arte da guerra:
“Mas no presente, ao menos nas províncias meridionais onde o conflito até o presente está circunscrito, a massa do povo toma uma parte ativa, fanática mesma na luta contra os estrangeiros. Os chineses envenenaram o pão da colônia europeia em Hong-Kong no atacado e com a mais fria premeditação. Alguns pães foram enviados a Liebig para exame. Encontram vestígio de arsênico, o que mostra que já havia sido incorporado à massa. A dose era suficiente para agir como um emético e assim neutralizar os efeitos do veneno. Eles embarcavam com armas escondidas a bordo dos vapores de comércio e, no meio da rota, massacraram a tripulação e os passageiros europeus e se assenhoram do navio. Eles seqüestram e matam todo o estrangeiro ao alcance da mão.”3
Esta passagem mostra que havia um exército irregular e determinado a lutar com quaisquer armas que tivesse a seu alcance contra os estrangeiros, direcionando e utilizando sua estratégia de guerra tão violenta quanto às dos invasores, impedindo que os ingleses obtivessem sucesso em suas manobras de combate. A bravura e a resistência do povo chinês foram decisivas para conseguirem a vitória.
A política de pirataria criada pelos ingleses provocou uma explosão universal de todo povo chinês contra todos os estrangeiros e lhe deu o caráter de uma guerra de extermínio, logo em seguida, surgiram diversas perguntas que colocavam o império anglo-indiano em uma posição difícil.
IV Frota se aproxima do litoral brasileiro (Latuff)
“O alinhamento das forças regulares e irregulares dos países invadidos é indispensável para lutar contra os invasores, a resistência em cada frente de batalha irá demonstrar força e coragem contra os que querem submeter-lhe a humilhações dos países imperialistas”.4
O complexo industrial militar tem hoje uma ligação profunda com o capitalismo. Ao longo da guerra fria foi desenvolvida a corrida aeroespacial que teve como objeto o mercado da guerra, que tanto incidiu em dois pontos vitais para a sociedade, a economia e a política, esta passou a depender das leis que autorizavam as invasões e incursões direcionadas aos países que a de interessavam, como já havia analisado Marx e Engels.
O editorial publicado pelo Jornal Inverta em 24/10/2008 sintetiza melhor esse sincronismo frenético entre economia e política, que faz movimentar o capital, abastecendo o mercado com novas tecnologias e estimulando o consumismo, mas essa relação intrínseca pode conduzir ao caos:
“... O complexo industrial-militar estadunidense que tem por objetivo assegurar a sua hegemonia mundial e a reprodução do modo de produção capitalista paradoxalmente, se converteu numa estrutura que desestabiliza e nega esta hegemonia, golpeando a base fundamental da mesma: a economia e a política. Uma análise do seu reflexo na crise geral do capitalismo nos EUA indica, claramente, que o aumento de sua presença militar no mundo e a sustentação do seu complexo industrial-militar constituiu-se em um dos principais fatores que impulsionam a falência econômica e política do Estado americano, como é visível pelo endividamento interno que equivale a 100% do seu PIB e do seu consumo. O déficit público atingiu a cifra dos U$$ 600 Bilhões; o déficit em contas correntes, no ano de 2005, já havia chegado aos 6,5% do seu valor total do PIB; considerando que os gastos militares atuais representam cerca de 4 a 5% do PIB; se pode ter uma idéia da importância destes gastos para insolvência do Estado americano.”5
Os países imperialistas que detiveram o domínio da economia, da política e ainda mais unidos à força beligerante cruel e devastadora, declinaram devido a sua insensatez de querer dominar o mundo. Exemplo que podemos citar é o império turco otomano que, no século XVI, comandou seu exército militar, defendeu suas fronteira, destruiu vários portos na África e na Europa e manteve uma frente de batalha na Europa Central.
Mas a excessiva força bélica otomana comprometeu a administração do império, causando prejuízos econômicos irreversíveis ao povo mulçumano.
“O exército otomano, por mais bem administrado que fosse, poderia manter as extensas fronteiras, mas dificilmente se poderia expandir mais sem um enorme custo em homens e dinheiro. E o imperialismo otomano, ao contrário do espanhol, holandês e inglês, mais tarde, não foi economicamente muito proveitoso. Na segunda metade do século XVI, o império mostrava os primeiros sinais de excessiva extensão estratégica, com um grande exército estacionado na Europa central, uma onerosa marinha operando no Mediterrâneo, soldados em atividades na África do Norte, Egeu, Chipre e o Mar Vermelho, e com a necessidade de reforços para manter a Criméia contra um crescente poderio russo.”6
Conclusão
“O que pode um exército contra um povo que recorre a tais meios de guerras? Até onde, ou até que ponto, pode ele penetrar em um país inimigo e como aí se manter?”7
A Quarta Frota americana está estacionada em posição estratégica buscando apoio das forças bélicas de países que têm a ambição de se tornar imperialistas da América Latina; aquele que se alinhar a eles terá o mesmo papel dos indianos que se uniram aos ingleses no século XIX.
Nesse momento, os países da América Latina têm que manter-se unidos, pois somente assim conseguirão manter afastado o chicote que, no passado, subjugou toda América Latina à humilhação e a torturas, hoje boa parte da população da América Latina encontra-se em estado de miséria, mas buscam fugir da submissão que os países imperialistas a submetem, a política do neoliberalismo tem elevado o nível de exploração das forças de trabalho e aumentado a miséria em todo mundo.
A força beligerante americana tem a função, nesse momento, de impedir que as forças produtivas da América Latina aumentem o comércio com outros países que não sejam EUA e os da Europa Unida, garantindo a supremacia econômica sobre os países da América Latina. Repetindo a mesma estratégia da Inglaterra, quando impediu o Brasil de comercializar com a África, alegando que o país mantinha o comércio de escravo.
A união dos países de toda América Latina contra os países imperialistas é fundamental, primeiro passo para conter o imperialismo na região.